“O Dever cumprido é a melhor maneira de fazer da própria consciência o mais alto lugar de repouso.”

Emmanuel

              Para o verdadeiro Maçom, o cumprir de seu dever deve ser uma tarefa simples e sublime, pois assim está postulado desde os primeiros dias de sua vida maçônica. Sendo assim, o conceito do Dever deve ser encarado por todos nós como o alicerce da Maçonaria, e o mais sublime destes deveres é o da busca da verdade, que deve pautar as ações do Verdadeiro Maçom e não se furtar a investigá-la. Infelizmente o que vemos hoje, mesmo no seio de nossa ordem, é muitas vezes o que professa Alexandre Dumas: “O Dever é o que se exige do outro.” (TAHA).

            Não apenas o dever cumprido, mas a satisfação em o fazê-lo deve nortear a vida do maçom, até por que este sabe que a Morte não é o fim, representa apenas mais um ritual de passagem da Vida Eterna, a verdadeira, ao qual ele se prepara durante os anos da existência corpórea, para atravessar da melhor maneira possível, transformando-a não em um martírio, mas em mais um Aumento de Salário, se o seu viver o tornou digno disto. Como ouvido no sonho alegórico do poeta, parafraseando Eclisiastes 32: 1, 2, 3 (ISMAIL):

“E quando tu fizeste todo o teu dever, senta-te, para que tu possas ser feliz com eles. E recebas uma coroa por teu bom comportamento.”

            O Cumprir o Dever está posto para o maçom como o único caminho para a verdadeira felicidade, como dito, ainda durante a juventude maçônica, pelo 1º Conselheiro da Ordem DeMolay aos iniciados durante a jornada, já citada no capítulo anterior, mas que merece destaque

“[...] Quando chegarem ao entardecer de suas vidas, desejamos que possam olhar para trás, no passado, e contemplar uma viagem longa e feliz, plena de recordações de deveres bem cumpridos, e um céu ocidental esplendoroso com promessas de uma eterna aurora.

            Percebam, meus irmãos, que nada é inventado, que tudo está escrito em palavras que lemos e relemos, ouvimos à exaustão, bastando apenas ter ouvidos de ouvir e que a força de vontade do aprendiz representada na coluna B, na coluneta do 1ºVig, se faça presente para colocarmos em prática as lições que temos aprendido, sem o que de nada valem e são apenas fórmulas vazias.

            Ao maçom recém iniciado são dados três deveres, para com o G:.A:.D:.U:., para com o próximo e para com ele mesmo, sendo eles:

  1. PARA COM G:.A:.D:.U:.: Reverenciá-lo como o supremo criador a quem devemos o eterno agradecimento pelas oportunidades de evoluirmos e melhorarmo-nos, obedecendo suas leis e glorificando toda a obra a ser executada a ele, pois é a razão de tudo.
  2. PARA COM O PRÓXIMO: Nada além do que ensinou o Cristo, agir para com ele da forma como gostaríamos que agissem para conosco. Em termos maçônicos, agir no esquadro.
  3. PARA COM ELE MESMO: Evitar a intemperança e os excessos, que nos impossibilitam de cumprir os nossos deveres.

Notemos que cumprindo estes três deveres, todos os demais que possam nos ser apresentados são meras derivações, portanto, constituem-se em regras sagradas de nossa Ordem, e como bem falou o Irmão Kennyo, nada pode ser mais chocante a todos os maçons fiéis do que ver qualquer irmão profanar ou rompê-las.

Desde as constituições de Anderson e de Laurence, a primeira obrigação do maçom é em relação aos preceitos relativos a Deus e à religião, estando ele obrigado a: “por seu título, praticar a moral” (MEDEIROS; ISMAIL; BLOES). Percebam como é simples em leitura, porém vasto e complexo em filosofia.

Mas vivemos em uma época turbulenta, onde esses princípios não são os mais valorizados em que se norteiam os homens, onde o imediatismo, o consumismo e o desejo do progresso material acima do moral os desvirtuam dia após dia, e o Maçom precisa estar atento a isto. Hoje os direitos são cultuados como verdadeiras conquistas da sociedade, passando todos os deveres ao governo, aos empresários e a alguém que “não seja eu”.

             Cabe aqui uma reflexão muito séria, ainda mais pelo fato de que um de nossos deveres é cumprir e fazer cumprirem-se as leis de nosso país, sendo que a máxima é a Constituição Federal, uma constituição que encheu-nos de direitos, e um dos poucos deveres que nos cobra, o faz de maneira coletiva, o que retrai a ação individual junto à administração pública, que é a de participar de maneira ativa na fiscalização e norteamento de ações via os conselhos administrativos, e já que isto é um dever que é exercido por representatividade, o cidadão comum ou se exime ou nem fica sabendo do que ocorre e acaba que as cadeiras destes órgãos são ocupadas por braços dos partidos políticos, principalmente os de esquerda, que conseguem um diálogo com as camadas mais baixas, economicamente falando, da sociedade, deixando com que estes conselhos sejam ultra coniventes com a administração ou plena oposição a elas, divergindo totalmente da finalidade para a qual foram criados.

            Transcrevo literalmente a passagem do livro do irmão TOMIMATSU, por ter sido algo inspirador para a confecção de todo este trabalho, e trazer em seu cerne uma avaliação objetiva histórica e da perspectiva de futuro frente a este tema:

É que os maiores males têm sido ocasionados pela conquista de direitos, por mais paradoxal que isso pareça. Não é essa uma concepção surgida em nossa mente, com o apoio de fatos; é a história dos nossos tempos, histórias cujas páginas gotejam sangue e sangue do povo. Interrogai todos os homens que transformaram a revolução de 1830 numa substituição de pessoas e que, à guisa de exemplos, fizeram dos cadáveres dos trabalhadores da França, mortos em três jornadas de combates, uma escala para o poder: todas as suas doutrinas antes de 1820 baseavam-se na velha ideia dos direitos, não na ciência dos deveres do homem. Combatiam com sinceridade o Governo de Carlos X (rei da França, de 1824 a 1830), cuja política reacionária impopularizou-o e provocou a revolução. Sim, combatiam aquele governo, por que era inimigo da classe proletária, combatiam em nome do bem-estar que não possuíam, tanto quanto lhe parecia merecer. Uns eram perseguidos na liberdade de pensamento, outros, engenhos poderosos, viam-se esquecidos, afastados do emprego, ocupado por homens de capacidade inferior.

            Então, também, os males do povo os irritavam. E escreviam ousadamente, de boa-fé, sobre os direitos pertinentes a cada criatura. Depois, quando os seus direitos políticos e intelectuais foram assegurados, quando o caminho para os empregos lhes foi aberto, quando conquistaram o bem-estar que procuravam, esqueceram os milhões, inferiores a eles em educação e aspirações, e buscaram o exercício de outros direitos e a conquista de outro bem-estar. Ficaram, então, tranquilos e só cuidaram de si mesmos. Isso tudo é fruto de uma doutrina que só visa direitos e não deveres.

            Conclui o autor dizendo que quando se buscam apenas os direitos, a guerra é inevitável, já que aquele que sabe cumprir seu dever, não precisa reclamar seus direitos, uma vez que este é uma consequência daquele. Porém, isso só é possível se todos pensarem assim, se o dever para com o próximo, que nos é cobrado logo ao iniciar, seja cumprido fielmente.

            Não basta sermos conhecedores dos direitos para que alcancemos melhoria de vida, e aqui ele não sugere que deva se abrir mão deles, muito pelo contrário, o mal não está neles, mas sim na forma com que eles chegam até nós. Se não forem fruto de merecimento, se forem apenas “doações filantropas” do Estado, estaremos incorrendo em um erro de origem, como também prega Mazzini, sociólogo e teólogo, professor do ensino público e privado de São Paulo, e em suas considerações ainda tece brilhante comentário acerca das organizações sociais, que não podem ser vistas ou analisadas senão sob a observação dos que às compõem, e hoje tendemos a colocar todos em um mesmo balaio, sem que voltemos nossos olhos para suas ações de maneira mais particularizada. Diz ele que:

[...] Pouco importa mudar as organizações, se conservais, assim como os outros, as paixões e o egoísmo de hoje: as organizações são como certas plantas que dão veneno ou remédio, conforme as operações de quem as ministra. Homens bons tornam boas as organizações más; os maus tornam más as boas. Trata-se de tornar melhores e convictas  de seus deveres as classes que hoje, voluntária ou involuntariamente, vos oprimem [...] Quando pois, ouvis homens que pregam a necessidade de mudança social dizerem que a conseguirão invocando unicamente os vossos direitos, sede-lhes reconhecidos pelas suas boas intenções, mas desconfiai dos resultados. Os males dos pobres são conhecidos, pelo menos em parte, das classes abastadas; conhecidos, mas não sentidos.

            Nenhuma das grandes teorias que mudaram o mundo para melhor, ou tentaram, pregou direito antes dos deveres, e não seria a Maçonaria que o faria assim. O próprio Cristo pregava o direito ao Reino dos Céus quando cumpridos todos os deveres na Terra.

            Atentemo-nos para o que diz o Ir:. TOMIMATISU acerca dos serviços prestados pela Maçonaria nesta seara:

[...] E, na ereção do edifício moral e social da Sublime Ordem, sem dúvida alguma esta é uma das mais importantes vigas mestras. Sem ela, isto é, sem o cumprimento do dever, em primeiro lugar, gera-se um espírito comunista, em que os homens, por se julgarem filhos de Deus, e todos Irmãos, acham que têm o direito a usufruir de todos os bens que outras classes usufruem, sem que, para tanto, se esforcem, ou a tanto façam jus.

                        Estas são as máximas dos Deveres, se entendermos que é apenas, e tão somente, através do cumprimento deles que nos credenciamos para poder valermo-nos dos direitos, se pensarmos que se eu não fizer, alguém precisará fazer, e a este alguém caberá o direito de usufruir das benesses que o feito proporcionar, e que isso não pode me causar estranheza ou irritação, ai sim teremos uma sociedade justa e perfeita, caminhando em harmonia com os ditames do Criador.

Bibliografia

1-TOMIMATSU, P.I. Rito Brasileiro: Analise e Considerações. 1Ed. Curitiba: A Trolha, 2019.
2-ORDEM DeMOLAY. RITUAL DO GRAU INICIÁTICO E DO GRAU DeMOLAY. 4 Ed. Brasília – DF, 2016
3-KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 58Ed. São Paulo: LAKE, 2002.
4- 
5-ISMAIL, K. A Constituição dos maçons antigos de Laurence Dermott traduzida e comentada por kennyo Ismail. 1 Ed. Curitiba - PR: A Trolha, 2016.
6-MEDEIROS, A.T. Instruções Maçônicas.1Ed. Natal - RN: Solução Gráfica, 2016.
7-BLOES, A.C. O Dever Fundamental. Disponível em: https://www.maconaria.net/o-dever-fundamental/?cn-reloaded=1, acessado em 21/08/2019;
8-SODRÉ. B. Dos Maçons e Seus Deveres. Disponível em: https://www.brasilmacom.com.br/dos-macons-e-seus-deveres/, acessado em 21/08/2019.

Por Ir.•. Leonardo Trench

Mes.•. Maç.•.  G.•. L.•. M.•. D.•. F.•.