A obra não é o mais difícil, complexo, é acomodar os moradores!

            Uma das mais repetidas máximas da maçonaria, “Erguer templos às virtudes e cavar masmorras aos vícios”, linda fala, uma lição diária, talvez até mais que isso, talvez uma lição a ser repetida a cada soar dos sinos clericais.

            Mas avaliando a minha capacidade como Maçom, comecei a refletir por que são tão difíceis estas construções, se temos todos os instrumentos à mão, todas as lições em mente, toda força de vontade e entendemos a importância da beleza da obra. Por que é difícil realizar estas construções?

            Claro que quando afirmo termos todas as lições etc, o falo de maneira retórica, já que sabemos que a busca pela verdade não é estanque, portanto tais afirmações falo de maneira simbólica, com objetivo de abrir os olhos, e principalmente os meus, para uma verdade que vem me chamando a atenção à algum tempo.

            Em um texto com abordagem religiosa sobre a frase, Rafael de Ávila afirma que “Construir templos às virtudes não se trata de edificar prédios suntuosos, trata-se de construir um templo interior, um templo no próprio coração. Todos têm a condição e devem construir templos de positividades, de bons sentimentos e harmonia dentro de seu coração, esta é a verdadeira construção de templo à virtude.” E que, “Por outro lado, é de suma importância, neste processo de construção interior de templos às virtudes, que concomitantemente cavemos masmorras aos vícios, buscando vencer as más inclinações, modificar as atitudes e esforçar-nos ao máximo para andarmos em um caminho de equilíbrio.” Este deixa muito claro que, se não buscarmos a construção concomitante nunca concluiremos as duas obras. Portanto, o que sobra quando se cava o buraco da masmorra, precisa ser usado para erguer o templo.

Em outro texto, da revista Universo Maçônico, me deparei com algumas perguntas inquietantes: “Em que momento perdemos a noção do certo e do errado? Por que já não sentimos pelo próximo o respeito e a consideração que outrora procurávamos sentir? Será que a crueldade do mundo nos tornou insensíveis, ou a nossa insensibilidade que fez com que o mundo se tornasse mais cruel?”

            E me propus pensar sobre elas, uma vez que se podemos perceber estas distorções, não creio que as perdemos de vista, não creio que os templos e as masmorras deixaram de fazer parte das obras, penso que esquecemos de acomodar os moradores.

            Acho que aqui está o segredo não revelado, aquele que precisa ser interpretado, e aqui não quero parecer inventor de simbologias maçônicas, sempre fui muito crítico a eles, pelo contrário. Eu penso que a Maçonaria nos dá instrumentos para que nos cobremos de ser melhores, ela facilita nossa visão justamente pela simbologia que se apresenta.

Portanto, se pensarmos nos moradores, precisamos primeiro entender quem são eles e a importância que têm em nossas vidas.

            Kardec nos relembra que em seu grau mais elevado, a virtude abrange o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem um homem de bem. Em contra partida às virtudes, encontramos os vícios, tudo que avilta contra o homem e o desmoraliza, falhas morais e propensões a prática do mal.

Frases fortes, completas e que encerram em si o essencial para o Maçom e nos da a verdadeira dimensão da complexidade do templo e a profundidade da masmorra.

Kardec ainda faz um alerta: “Aquele que faz alarde de sua virtude não é virtuoso, pois lhe falta a principal qualidade: a modéstia, e sobra-lhe o vício mais oposto: o orgulho.” E completa: “Foi pelo orgulho que as humanidades se perderam sucessivamente. É pela humildade que elas um dia deverão redimir-se.” O Construtor Social precisa estar atento.

Erguer templos:

        Para alguns esta frase pode até ser interpretada como uma ode à vaidade, já que se temos uma virtude ela deve estar exposta em belos templos para chamar a atenção e assim ser vista e exaltada por todos. Ah que pobre definição!!! Eu penso ao contrário, corroborando com o que falamos no capítulo anterior, e conter a vaidade de exaltar as virtudes talvez seja o trabalho mais difícil a se realizar aos portões da masmorra, mas falamos dele jajá, vamos focar no templo.

Penso que os templos, precisam ser belos, pois todo trabalho deve ter dedicação à sua beleza, mas não para exaltação do mesmo, mas sim por que nossas virtudes, ainda muito pequenas pela nossa pouco caminhada na senda evolutiva, precisam ser muito bem cuidadas, muito bem trabalhadas, pois facilmente podem ser feridas, podem ser derrotadas, já que a vida profana está cheia de desafios aos nossos pensamentos e atos virtuosos. Vivemos uma época turbulenta, como afirmamos desde à tenra idade maçônica, ainda na Ordem DeMolay, onde os maiores baluartes não são os mais importantes e pelos quais estamos disposto a lutar. Portanto, quanto mais alto e belo for nosso TEMPLO ÀS VIRTUDES, mais condições ele nos dará por nos chamar a atenção e nos permitir enxergar longe, antevermos nossos atos e as tentações a que seremos expostos, e assim nos defendermos.

            Sendo assim, precisamos trabalhar muito, mas muito mesmo, cada tijolinho deste templo para que sejam fortes, pois o mundo profano é cruel e sempre disposto a sacudir as bases que construíram esta edificação, como afirmo no trabalho “Tempos Modernos e a Destruição do Alicerce da Obra”.

Com certeza nosso templo ainda não precisa ser amplo pela quantidade de virtudes que temos em nós para alojar, mas precisa ser forte para resistir às investidas das tentações terrenas. Manter o pensamento e as atitudes virtuosas, hoje em dia, é algo bastante difícil, os tempos modernos nos carregam facilmente à enclausurá-los e ai reside a necessidade que temos de erguer templos a eles. A trigonometria nos ensina a usar o triângulo e balizar as nossas ações entre o bem e o mal, para formar o terceiro e complementar lado em tudo que se realiza, e em parceria com a Geometria que nos dá os limites de nossa razão e o traço exato da linha da justiça, que nunca pode se perder na mente de um M:..

            Tempos difíceis, mas como diz o ditado, mar calmo nunca preparou bons marinheiros, e se queremos ser, e já nos intitulamos Construtores Sociais, agora, mais que nunca, é a hora de fazer valer o templo das virtudes maçônicas. A Sociedade espera algo de nós, façamos!

Cavar Masmorras:

            Na minha forma de enxergar, muito mais importante que erguer o templo, é cavar a masmorra, até por que, as virtudes ainda são poucas, mas os vícios...

            Importante entendermos que estamos cavando masmorras, e olha como a Maçonaria é inteligente em suas alegorias, não estamos cavando túmulos. Ou seja, os vícios não morrerão sufocados em um ambiente hermeticamente fechado, não atingiremos este resultado de maneira imediata e definitiva, muito pelo contrário, nossos vícios, por menos que queiramos aceitar, fazem parte de nossa personalidade e são muito importantes para definir quem somos e por que estamos onde, e como estamos.

            Mas a Maçonaria nos recomenda que aprisionemos os vícios, que contenhamos nossos defeitos para que aprendamos com eles, com os ruídos escabrosos que brotam do fundo de nossos pensamentos para que estejamos alertas, já que “no combate aos vícios e paixões é importante manter-se vigilante, emitindo pensamentos relacionados ao bem, neutralizadores das consequências indesejáveis decorrentes dos processos viciosos, sérios obstáculos ao progresso intelectual e moral do Espírito. Para tanto, recomenda-se observar medidas de prevenção e controle.”(5)

Cada vez que a um deles quer emergir, vir à superfície e se externar como um comportamento indevido, a solidez da construção será colocada à prova. E a auto análise à perfeição do esquadroa, será fundamental no processo evolutivo. Perceber qual foi a grade que se rompeu, qual o tijolo que estava mal assentado, qual elo da corrente do portão que falhou e deixou escapar o prisioneiro, é o verdadeiro trabalho do Obreiro que entende que a obra nunca está acabada, que a caminhada não chegou nem perto metade.

Mas a Maçonaria nos recomenda que aprisionemos os vícios, que contenhamos nossos defeitos para que aprendamos com eles, com os ruídos escabrosos que brotam do fundo de nossos pensamentos para que estejamos alertas, já que “no combate aos vícios e paixões é importante manter-se vigilante, emitindo pensamentos relacionados ao bem, neutralizadores das consequências indesejáveis decorrentes dos processos viciosos, sérios obstáculos ao progresso intelectual e moral do Espírito. Para tanto, recomenda-se observar medidas de prevenção e controle.”(5)

Cada vez que a um deles quer emergir, vir à superfície e se externar como um comportamento indevido, a solidez da construção será colocada à prova. E a auto análise à perfeição do esquadroa, será fundamental no processo evolutivo. Perceber qual foi a grade que se rompeu, qual o tijolo que estava mal assentado, qual elo da corrente do portão que falhou e deixou escapar o prisioneiro, é o verdadeiro trabalho do Obreiro que entende que a obra nunca está acabada, que a caminhada não chegou nem perto metade.

            Agora fica mais fácil entender por que o templo precisa ser alto, por que as virtudes precisam ser muito bem talhadas e trabalhadas, pois a cada escape do prisioneiro, precisamos erguer mais um degrau à virtude, pois ela precisará enxergar mais longe para antever as possíveis fugas, e ainda mais, a cada investida do mal sobre nossos pensamentos em ações, uma porção da luz das virtudes se apaga, o mundo nos cobra, a cada ato falho, por menor que seja, grandes ações virtuosas são esquecidas e a lembrança que fica é da oportunidade perdida de fazer o bem e sermos melhores.

            Atentemo-nos, os caminhos são pedregosos, somos colocados à prova diuturnamente mas se estivermos vigilantes, a cada noite quando encostarmos o esquadro em cada um dos nossos atos e pensamentos do dia, veremos que mais e mais ele estará se ajustando às quinas, e ai reside a verdadeira razão de ser da Maçonaria. Ela não forma homens perfeitos, quem sabe um dia na escala evolutiva da humanidade, ela precisa formar Homens conscientes de suas falhas, sabedores dos seus defeitos e limites e conhecedores da arte que lhes permitirá ser hoje um pouco melhor que ontem, e ter a noção de que deveriam estar um pouco pior que amanhã.

            Portanto me parece muito claro que a obra não é o mais difícil, complexo é acomodar os moradores, de um lado pela escassez deles e a pouca propensão a se mostrarem, do outro pelo volume e pouca vontade de se esconder, basta saber quem é quem em cada um de nós!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1-REVISTA UNIVERSO MAÇÔNICO; “LEVANTANDO TEMPLOS ÀS VIRTUDES E CAVANDO MASMORRAS AOS VÍCIOS”. DISPONÍVEL EM: < https://www.revistauniversomaconico.com.br/simbologia/levantando-templos-ao-vicio-e-cavando-masmorras-as-virtudes/> ACESSADO EM 19/09/2022.
2-ÁVILA, R.; “CONSTRUIR TEMPLOS ÀS VIRTUDES E CAVAS MASMORRAS AOS VÍCIOS”. DISPONÍVEL EM: http://www.acve.com.br/index.php/jornal/item/316-construir-templos-as-virtudes-e-cavar-masmorras-aos-vicios> ACESSADO EM 19/09/2022.
3-KARDEC, A. O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. 58Ed. São Paulo: LAKE, 2002.
4-TRENCH, LA. FERREIRA, R.C.C; TEMPOS MODERNOS E A DESTRUIÇÃO DO ALICERCE DA OBRA. Revista M:.B:. ano I nº9 jan/fev 2022. Disponível em < https://bancadosbodes.com.br/revista-mb-09-janeiro-fevereiro-2022/> acessado em 04/09/2022.
5-Bíblia do Caminho;   OS VÍCIOS E AS PAIXÕES. Disponível em  http://bibliadocaminho.com/ocaminho/Tematica/EE/Estudos/EadeP1T3.3.2.htm acessadoem 15/09/2022.

Por Ir:. Leonardo Trench

     M:.M:. A:.R:. L:.M:. Frat. Acadêmica “O Aleijadinho” n. 3590 – Bauru – SP.

P:. e Sub:. M:. Sub:. Cap:. De CCav:. R:. C:. Washington Luiz Bauru- SP – 3º Insp:. Lit:. do Estado de SP