Caríssimos IIr.·., quero passar para vocês um pouco sobre a Câmara de Reflexão. Como o nome diz, trata-se de uma sala isolada onde o candidato à Apr.·. M.·.  é colocado e convidado a refletir sobre a sua vida até aquele momento. Naquele ambiente que tem pouca luminosidade, suas paredes são negras e nele se encontram alguns objetos, dos quais apenas uma mesa e uma cadeira são comuns e de conhecimento de todos.

Muitos de nós maçons perguntam de onde é a origem da Câmara de Reflexão pois, todos nós, queiram ou não, entram em contato com ela no dia de sua iniciação. Na realidade sua origem veem da lenda dos três assassinos do Mestre Hiram Abiff os quais, após cometerem o crime, se refugiaram em uma caverna para não serem descobertos e que depois foram presos pelos soldados do Rei Salomão; enquanto lá estavam, eles refletiram sobre o bárbaro crime que cometeram e sobre suas condições humanas.

Nós quando iniciamos, temos nossa primeira experiência e contato com os mistérios da Arte Real através da Câmara de Reflexão, local sagrado, onde o candidato se concentra, medita, reflete sobre a importância de sua vida, sobre como nós somos pequenos e frágeis diante da providência divina e do mundo profano; lá nós somos conduzidos a meditação permitindo o acesso ao nosso interior. É no mais profundo silencio que nós nos preparamos para nascer de novo, para nos tornar um novo homem e refletir sobre o importante passo que iremos dar. Lá nós nos encontramos em um lugar fechado de meditação, todo pintado com a cor negra, que simboliza não a nossa morte física, mas uma morte do nosso ser.

Este momento de meditação permite que nós façamos um balanço de nossa vida passada, para termos uma passagem para uma nova vida e totalmente diferente. A Câmara de Reflexão tem suas paredes negras e, não deve entrar qualquer luz do exterior, sendo que ela é composta de uma cadeira e uma pequena mesa. Sobre a mesa, um pão e uma jarra com água, um recipiente com enxofre e outro com sal; próximo ao pão e à água, um crânio escaveirado que é muitas vezes representado entre duas tíbias cruzadas em X; uma ampulheta completa os utensílios que se encontram sobre a mesa.

Nas paredes, pintados símbolos de morte: esqueletos, ossadas e uma foice segadeira. Na parede fronteira à mesa, há a figura de um galo e as palavras “Vigilância e Perseverança”. Nas outras paredes, frases de advertência tais como: “Se a curiosidade aqui te conduz retira-te; Se fores dissimulado, serás descoberto; Se queres bem empregar tua vida, pense na morte; se tens receio de que descubram teus defeitos não estarás bem ente nós; Se és apegado às distinções humanas, retira-te, pois aqui não as reconhecemos; Se tens medo, não vá adiante; Deus julga os justos e os pecadores! Somos pó e ao pó tornarmos.

Vamos falar um pouco dos símbolos acima mencionados que contem na Câmara de Reflexão:  O Galo  é o símbolo da  vigilância, indicando que um novo dia está chegando e com ele trazendo ao novo maçom o futuro e libertando-o da escuridão; O Galo anuncia um novo dia, comunicando que o futuro maçom está para receber a Luz; ele simboliza ainda a esperança do renascimento, o raiar de uma nova era, visto que o neófito vai morrer para a vida profana e renascer na vida maçônica e que deverá estar sempre vigilante no seu dia a dia. A Foice, sugere ao iniciado que todos os seus vícios e todas as suas imperfeições deverão ser cortados e arrancadas, para que possa assim estar apto para conhecer a verdadeira Luz. Crânio e o Esqueleto – Ambos simbolizam que nossa vida aqui é passageira e a morte corporal inevitável, sendo o começo do renascimento de uma nova vida. A Ampulheta  é  um instrumento para medir o tempo, mediante uma porção de areia dentro dela; simboliza também  a passagem do tempo, indicando ao Maçom que ele deve aproveitar o seu tempo com coisas  úteis e proveitosas para si próprio e também para a humanidade., não devendo dedicar sua vida somente ao acúmulo de riquezas e ao gozo dos prazeres mundanos desperdiçando sua vida. O Pão é um  símbolo do alimento essencial ao ser humano; o pão ainda simboliza o laço que deve unir os Maçons fraternalmente. A Água representa a fonte de vida, da  purificação, indispensável para o ser humano, sendo o símbolo da Mãe Natureza. O Sal é uma representação da vida, da pureza e da sabedoria; preceitos que devem orientar os passos do candidato em sua nova jornada dentro da ordem maçônica; é símbolo ainda da palavra empenhada ao fazer seu juramento, porque a palavra do Maçom como o  sal,  deve ser  indestrutível. O Mercúrio é o símbolo alquímico universal e do princípio feminino passivo, sendo considerado como o princípio da Inteligência e da Sabedoria. Na mitologia greco-romana, ele é o mensageiro dos Deuses, sendo o agente harmonizador dos contrários, que procura colocar a ordem no caos, pois ele representa algo que é instável em cada um de nós. O Enxofre é o símbolo do espírito e por isso simboliza as nossas paixões, e os nossos desejos excessivos. O Testamento é um documento jurídico utilizado na vida profana, deixado pelo falecido como desejo de sua última vontade; mas, na Maçonaria é considerado como um testamento “filosófico”, e iniciático sendo uma preparação para a nova vida que ele irá começar. Através dele, os Irmãos terão um real conhecimento dos verdadeiros sentimentos e intenções do Profano. A Vela – A Câmara de Reflexão é iluminada apenas pela luz de uma vela, sendo que há várias interpretações sobre este símbolo; entre elas indica que o profano recebe sua primeira Luz na Maçonaria, sendo ela, o reflexo de Deus no plano terrestre; simboliza também a luz da razão, que ilumina a Câmara e que deve iluminar a mente do profano, dando-lhe assim a esperança de um mundo totalmente novo e diferente, que se deslumbra a sua frente; resumindo tudo isso, a Câmara de Reflexão é a passagem da vida profana para a vida maçônica.

A Câmara de Reflexão tem diferenças de um Rito para outro, exemplo: No Rito de York a Câmara é muito simples, tem apenas materiais para escrever, uma campainha, um crânio e as frases de advertências. No Rito Escocês Antigo e Aceito, ela é completa, tem materiais para escrita, um foco de luz, uma ampulheta, um esqueleto humano ou no mínimo um crânio; um pão de trigo, uma jarra com água, sal, enxofre e mercúrio, a pintura de um galo despertando o dia, além das frases de advertência. No Rito Schroeder ou Alemão, que trabalha apenas nos três primeiros graus, o profano passa por duas vezes na  Câmara: primeiro passa pela Preparação, onde é introduzido por seu padrinho sem paramentos, contendo apenas material de escrita, uma campainha, um crânio, e as frases de advertência; e, depois passa pela parte Escura, onde o profano é colocado após responder oralmente algumas perguntas feitas pelo Ir\ preparador, acompanhado pelo membro mais novo da Loja; nessa Câmara mal iluminada o candidato preenche a sós o questionário que lhe foi entregue. No Rito Moderno ou Francês a Câmara é mais simples, contendo uma cadeira, uma mesa, sobre esta um foco de luz, material de escrita, um crânio humano, uma ampulheta e uma campainha que o candidato tocará quando terminar de preencher os papeis necessários, além de frases de advertência. No Rito Adoniramita ela é completa como no Rio Escocês; sobre a mesa, além de um foco de luz e do material de escrita, há um crânio humano, uma jarra com água, um pão, sal, enxofre, mercúrio e, nas paredes além das frases de advertência há uma figura de um galo cantando. No Rito Brasileiro a Câmara além do foco de luz, do material de escrita e da campainha, contém ainda um crânio ou um esqueleto completo, uma ampulheta e a representação de um galo na parede, além de frases de advertência.                     

Meus IIr.·. está ai algumas particularidades da Câmara de Reflexão, acredito que este e o local de um Loja menos visitado pelos IIr\, principalmente pelos MESTRES que deveriam sempre está renovando seus hábitos, costumes e conhecimentos. Abraços Fraternos.

Ir.·. Ernande Costa Macedo

Mestre Maçom, 33º e Secretário da Academia Maçônica de Letras Ciências e Artes da Região Grapiúna (AMALCARG), sul da Bahia.