“O direito de viver é sagrado para todos; já o direito de viver bem depende do indivíduo, da Sociedade e dos governantes.”
Paulo Tomimatsu
Podemos começar este trabalho parafraseando Oscar Wilde, quando diz que “Tudo aquilo que o cidadão faz quando está em público chamamos de ética e se esta mesma ação também não for feita quando está sozinho, chamamos de moralidade.”
Um Maçom não carregará em seu peito acesa a chama da Sublime Ordem se não conseguir ser Moralmente correto, pois tudo que é postulado pela Ordem o é em caráter individual. A Maçonaria não prega que seus membros mudem o mundo, mudem as pessoas ao seus redor, mudem seu bairro ou sua rua, muito pelo contrário, ela prega que o Maçom se construa, se mude, erga templos às suas virtudes, não para se gabar delas, mas para que sejam bem tratadas e desta forma se fortaleça, que cave profundas masmorras aos vícios, não para que sejam esquecidos e largados à própria sorte, mas sim para que sejam dominados e controlados sempre debaixo da atenção do atento construtor social.
Sendo assim, a Maçonaria, tão perfeita em sua constituição, não exigirá de seus membros atitudes em público que não sejam apenas reflexos de suas atitudes solitárias, o pensamento do maçom, a sua busca pelo conhecimento e pela verdade, a sua incessante batalha para tornar feliz a humanidade é que serão cobrados, e mesmo assim, não pela Ordem, ou pelos membros dela, mas sim pelo que ela conseguiu ou não imprimir na mente de seus membros.
Considero a maçonaria algo muito pessoal e intransferível, pois cada um a vive e vivencia à sua própria maneira, podendo passar os conhecimentos adquiridos, experiências vividas, mas nunca a Maçonaria experimentada.
Deus não nos criou à sua imagem e semelhança para que contemplemos a linda obra de arte em estilo quase que acabado, muitíssimo contrária é minha visão no tocante a tal caso, ele assim nos criou em sentido filosófico, pois precisamos ser ação constante e pensamento incessante de acordo com seus ditames. Precisamos agir e pensar baseados nos preceitos do Criador.
Para que bata à porta do Templo, o que é cobrado do Profano? Que ele seja um homem livre e de bons costumes! Ser livre e de bons costumes é a chave que abre as portas de todos os Templos da Humanidade. Sendo livre, não há prisão em vícios, à conceitos pré estabelecidos que imobilizem o indivíduo perante as verdades que vão sendo descobertas, à pessoas etc. Ter bons costumes, e assim se manter e se aprimorar faz com que a Fidelidade, a generosidade e a benevolência sejam características comuns no dia a dia daquele que visa cumprir seu dever sobre a Terra da melhor maneira possível.
Não pode o homem entender que, não sendo fiel a seus princípios, aos seus juramentos, aos seus amigos e irmãos, e à Deus, não sendo benevolente com os mais necessitados, generoso com o próximo, terá ele feito algo para cumprir seu dever, algo fundamental a qualquer um que se preze a intitular-se Construtor Social.
Não consigo entender de onde veio, para a sociedade, essa incessante busca por direitos, sem preocupação com os deveres. Por exemplo, para que possamos usufruir do direito básico de ir e vir, uma série de deveres precisa ser cumprida, como não matar, não roubar, pagar pensão alimentícia em dia, não cometer crimes ambientais etc. Uma sociedade que realmente se interesse em crescer e ser produtiva, entende a meritocracia como básica para o crescimento social, e buscará entender seus deveres perante o todo para que possa usufruir dos direitos inerentes àqueles que bem os cumprem.
Somos legislados por uma constituição que outorga à sociedade uma série de direitos, era um momento libertário da sociedade mundial e claro, nacional, um momento em que as tensões da guerra fria começavam a diminuir, mas o planeta.
dormia de olhos abertos, pois o que parecera infinito há poucos dias teria terminado sem derramamento de lágrimas e sangue, muita lágrima e muito sangue, como se previa, então algo tinha que estar sendo arquitetado e não sabíamos. A busca então por liberdade, direitos etc me parece inerente ao momento, já que cumprimos o dever de permanecer vivos à tão duros momentos, cumprimos o dever de sustentar o sistema até então, agora é hora dos direitos. Mas as coisas mudam, a sociedade evolui e precisa de mecanismos para isso.
Neste sentido, não creio ser a constituição de 1988 tão cidadã quanto a nomeiam, pois ao mesmo tempo que ela dá ao cidadão direitos, ela esquece de dizer a ele o que ele precisa fazer para que os direitos possam ser custeados. Ela joga para o Estado todas as responsabilidades, muito bem, mas quem é o Estado se não nós? Não há Luis XIV em nossa sociedade para se auto intitular de tal maneira, então precisamos entender que alguém paga as contas e o pagar é um dever, não um direito.
Que seja a Maçonaria, mais uma vez, a mola mestra da construção social e trabalhe em prol de criar esta consciência na sociedade. Muitos falam em alterar a constituição novamente, eu discordo em partes, o que precisa ser alterado é a forma de se entender a formação social. É necessário que se entenda que o público tem dono, e que qualquer dano a ele lhe custará um pouco mais. Sociedades mais evoluídas que a nossa não o são por leis mais austeras neste quesito, pelo contrário, o são por terem feito seus integrantes entenderem que eles são parte ativa no processo e não passiva.
Mas será que a Maçonaria do sec XXI vem cumprindo seu Dever? Quando se postulou que não se discute política na maçonaria, muito dos irmãos, viciados nos direitos adquiridos passivamente, se “fecharam em copas”, para discutir questões muito mais relevantes para a sua vida e seu lazer, como a marca da cerveja do próximo churrasco, o prato do próximo ágape, e com isso a Maçonaria segue em rota de colisão com o colapso de seus preceitos, pois a sua verdadeira função de construtora social se perde, já que ela passa a ocorrer apenas dentro dos templos e dos salões, sempre regada a muita bebida e comida farta.
O não se discutir política partidária não quer dizer não participar ativamente das decisões e deliberações políticas de seu bairro, cidade ou país. Um maçom que se preze deve sempre se perguntar, o que meu bairro acharia se minha loja fechasse as portas de hoje em diante? Meu caro irmão, se lhe causou suspense a resposta a esta pergunta, é hora de renovar os estudos e apresentar soluções para problemas que estão se passando debaixo de nossos narizes em quanto estamos testando aos toques de mão, qual garrafa de cerveja está mais gelada para ser aberta.
Estou cada vez mais convencido que a política é que muda a vida do cidadão, ela traz a iluminação, a escola, a indústria, e se a maçonaria continuar a se esconder de sua vocação original, não creio que nossos sucessores contemplarão orgulhosamente as fotos de nossos contemporâneos, como o fazemos ao ver Simóns Bolivares, Josés de Bonifácio, Georges Washington, Dom Pedros etc.
É hora de acordarmos deste sono profundo que alguns do passado nos amaldiçoaram, tal qual tivéssemos furado nosso dedo na roca encantada, como que beijados pelo Esquadro alinhado ao compasso, e recolocarmos a Maçonaria no seu lugar de origem no processo de construção da sociedade feliz como repetimos em todas as reuniões. Esse é o nosso dever e precisamos ser fieis a ele para sermos, na exata medida, benevolentes com a sociedade e generosos com nossos sucessores, só assim teremos o direito de descansar em paz com a consciência tranquila daquele que cumpriu seu dever.
BIBLIOGRAFIA
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Por Ir\ Leonardo Trench
M.·. M.·. CIM 330231.A.·.R.·.L.·.S.·. Fraternidade Acadêmia “O Aleijadinho” 3590. P.·. e Sub.·. M.·. Sub.·. Cap.·. De CCav.·. R.·. C.·. Washington Luiz Bauru - SP – 3ºInsp.·. Lit.·. do Estado de SP. Bauru - SP