Quando eu fui iniciado, o Venerável Mestre de minha Loja, Vigilância e Resistência n° 70 – Ilhéus (BA), era um homem, apesar de “baixinho” na estatura física, GIGANTE, tipo, um “Grande Homem”, na estatura intelectual e humana; seu nome: Geraldo Sampaio.
Assisti-lo Presidir uma sessão era, para mim, ainda aprendiz, um fascínio, um feixe de conhecimento que me acendia, isto porque ele abria e fechava a loja sem sequer olhar um ritual, seja Loja de Aprendiz, Companheiro ou Mestre, ele era o ritual, detinha em sua memória cada ponto, virgula, interrogações e exclamações.
A fora estes detalhes de uma exímia memória, passou-me, ele, de forma disciplinar e intuitiva, um sentimento de pertencimento a Ordem e varias outras instruções que poucos conseguem transmitir; a sensação de que na Maçonaria somos UNO, uma só orientação, um só destino, um só compromisso, que inclusos em nossos juramentos; com a finalidade única de nos transformar em IRMÃOS; ou seja: Um por todos e todos por um.
Durante o seu Veneralato, que se prorrogou, 4 anos, fui de Aprendiz a Mestre e, por suas mãos, penetrei nos Altos Corpos do REAA, onde ele sempre foi destaque em suas exposições.
Muitos exemplos, histórias e ensinamentos que guardo em mim me foram passados por ele, principalmente o de respeito ao próximo, o de tolerância com os irmãos menos evoluídos (este conselho estou a lapidar), e, ainda, sobretudo, o de HOSPITALIDADE; agasalhar, acomodar e proteger os irmãos necessitados e desprotegidos, por quaisquer razões for. Proteger os nossos primeiro!,… já que, também, é nosso compromisso proteger a sociedade em que vivemos.
Geraldo Sampaio me submetia a participar de todas as atividades e fui, sempre, encorajado a trabalhar em todas as funções da Loja. Dizia que eu deveria saber fazer os diversos papéis do oficio em benefício da Loja, mas quem se beneficiava, mesmo, no aprendizado era, na verdade, eu; dizia: você tem de aprender que não é apenas um irmão, mas o irmão de todos em sua Loja.

Titulei este texto com o famoso adágio dos Mosqueteiros, serie de Alexandre Dumas (nosso irmão), como um grito de guerra maçonico. Devemos buscar orientações uns dos outros, orientar e trabalhar juntos para dar solidez a nossa estrutura social e acima de tudo melhorar a nós mesmos. Não sei de quem é esta frase a seguir, mas Geraldo Sampaio a cita toda vez que tem oportunidade: “Não pergunte o que sua Loja pode fazer por você, pergunte-se o que você pode fazer por sua Loja.
Este texto, sua introdução, seu título, bem como a citação feita ao Ex-Venerável Geraldo Sampaio, dá sentido e contextualiza um problema capital vivido por nossa sociedade maçônica, a individualidade.
Ensinam-nos, estimulam que nos autos aperfeiçoemos, ora, autoaperfeiçoamento não é algo que se possa fazer a si próprio, pois o caráter de um irmão é aprimorado através da inteiração com outros irmãos, nas oficinas, nos ágapes, tomando uma cervejinha, no meu caso uma coca diet. Não devemos tratar nossos irmãos como indivíduos únicos, devemos trabalhar para que todos sejam absorvidos pela Loja; se agíssemos assim não haveria tantas evasões.
Quando iniciamos novos neófitos não lhes explicamos nossas expectativas enquanto grupo, como irmandade. Muitos deles, mesmos depois de Mestre Maçons, trabalham como membros individuais da Loja (individualistas), não participam nem de nossos eventos ou de nossos jantares, lhes basta o título de maçom. Alguns se juntam em grupinhos fechados e se tornam lagartixas na parede a espera de oportunidades que jamais chegam, alguns outros se aliam aos Donos de Loja para se sobressaírem, também há os que têm luz própria e seguem seu caminho desbastando a pedra bruta; a retenção desses tipos de irmão (Lagartixas e protegidos de Donos de Loja) é baixa porque ao ingressarem na Ordem, estes profanos de avental, não levam em conta o que a Loja e os irmãos que lá já estavam esperavam deles.
A Maçonaria necessita agora, para esse terceiro milênio, focar na Hospitalaria, destravar a individualidade, fomentar cada vez mais o coletivo, a irmandade, o seu interior, a fim de se preparar para um mundo cada vez mais dependente de virtudes.
O Hospitaleiro, obviamente, é um ofício muito importante, deve ser cargo desempenhado por maçons experientes, melhor, se possível for, por um mestre antigo, quiçá um ex-venerável da Loja, tamanha sua importância para o bem-estar de todos os seus membros.
Precisamos tratar com mais carinho e respeito o afastamento, motivado, de um de nossos membros, principalmente, quando este afastamento é resultado de problemas relacionados a saúde, do próprio membro ou de um seu familiar.
Casos corriqueiros ocorrem sem que nós sequer demos conta de que está em andamento, estamos, todos, absorvidos com nossas atividades não maçônicas que acabamos entendendo o irmão, “como um irmão”, somente nos dias de nossa reunião semanal. Acabamos abandonando o irmão faltoso mesmo sabendo que suas faltas são por problemas de saúde dele ou de alguém da sua família (sobrinhos ou cunhadas). Os mais novos sequer notam a falta do irmão.
Aí é que entra o papel do Hospitaleiro, quando um irmão falta de forma constante, repetidamente, por mais de um mês tem de se estar atento e se providenciar uma comissão para acompanhamento do irmão faltoso, principalmente se doente ou tutoreando um doente, pois que há uma enorme diferença entre nos tratarmos “por” irmão e nos tratarmos “como” irmão.
Quando um de nós apresentar a necessidade de ser auxiliado pela presença amiga, pelo calor humano ou conforto moral de seus irmãos, até econômico, necessário se faz que toda a sua Loja se uma em seu redor para amainar sua aflição, recuperar sua motivação para tocar a vida e retornar a sua Loja.
Carecemos gostar mais, conviver mais e atuar mais, para que num dia vindouro não cheguemos a ser o próximo a ser esquecido.
Alexandre Dumas nos ensinou em os três mosqueteiros e, observem, eles eram apenas Três, Athos, Porthos, Aramis e o espadachim DArtagnan; nós somos milhares sobre o globo terrestre.
Um por todos e todos por um.

Por Ir Leonardo Garcia Diniz

M.’. M.’. Membro das AARLS Amparo e União 260 e Vigilância e Resistência n° 70 – Ilhéus (BA).