Como observado nas Corporações de Oficio da Idade Média, os maçons também tinham seus patronos protetores, os quais eram honrados com festas solenes.
Foram São João Batista e especialmente, os Quatro Santos Coroados os que ocuparam um lugar de destaque nos Estatutos dos Trabalhadores de pedra da época. Assim por exemplo nos estatutos de Ratisbonne (1459), importante documento corporativo, dividido em 52 artigos, essencialmente deontológico e que começa assim: “Em nome do Pai, do Filho, do espirito Santo, bem-aventurada Virgem Maria, e também de seus bem aventurados Servidores, Os quatro Coroados, em sua memória eterna”.
Desta forma, de acordo com o Martirológico romano, em 8 de novembro, é relembrado em Roma, na Vila Lavicana, o triunfo dos Quatro Santos Coroados, a saber: Severo, Severiano, Cartoforo e Vitoriano.
Os mesmos, no tempo do imperador Diocleciano, foram flagelados até a morte, com chicotes chumbados, por terem recusado cumprir a ordem imperial de erguer um templo a um Deus pagão.
O documento, após ter mencionado a hierarquia corporativa dos mestres, companheiros e aprendizes, especifica que para entrar na corporação é necessário ter nascido livre e ter bons hábitos.
De acordo a este documento, o maçom, com efeito, não deve viver em concubinato nem se entregar ao jogo (art. 35). É obrigatório se confessar e comungar pelo menos uma vez por ano e os bastardos são excluídos segundo o (Art. 39), sendo que os maçons itinerantes são objeto de previsões particulares. O documento ainda determina em seu (Art. 52) os critérios e devoções aos Quatro Coroados:
“já que em virtude da ordem cristã, todo o cristão é obrigado a zelar pela salvação de sua alma, os mestres e artistas devem considerar justo que Deus Todo Poderoso os receba graças à arte e ao trabalho de construção das edificações divinas e das obras admiráveis, que outras pessoas louvarão e admirarão, e que assim ganhem o alimento de seus corpos. E que seus corações sejam tocados de gratidão cristã, a fim de promover o serviço divino, e ganhar a salvação de sua alma.
Por essa razão, pela honra e louvor de Deus todo poderoso, de sua bem aventurada Mãe, a Virgem Maria, de todos os Santos e especialmente dos Quatro Santos Coroados, pela satisfação das almas de todos aqueles que são e serão filiados a estes estatutos, determinando e decidimos, nós e nossos descendentes, de mandar celebrar um oficio divino todos os anos durante os quatro domingos da quaresma, e nas festas dos Quatros Santos Coroados em Estrasburgo, na catedral e na capela da Virgem, com vésperas e missas aos mortos, sempre que for possível fazer isso”.
Contudo, as homenagens e comemorações em honra e memória aos Quatro Coroados, durante muito tempo foram ignorados e seus nomes relegados ao esquecimento. Somente muitos anos mais tarde por meio de uma revelação divina, foram conhecidos os nomes citados acima e ordenou-se que a festa fosse celebrada junto com as dos Santos Mártires Claudius, Nicostrato, Sinfório, Castor e Simplício que também na Via Lavicana, em Roma, a três milhas da cidade, sofreram o martírio dois anos depois dos Quatro Coroados.
Estes cinco mártires exerciam a profissão de escultores e por terem se recusado a esculpir um ídolo pedido por Diocleciano e sacrifica-o aos deuses pagãos, o Imperador os trancou vivos em um sarcófago de chumbo e os lançou ao mar, no ano de 287.
Os cinco mártires, somados aos anteriores, são honrados sob o nome de Quatro Coroados, embora na realidade sejam nove. Parece que a menção mais antiga dos Quatro Coroados remonta ao ano de 1317, nos estatutos dos trabalhadores de pedra de Veneza.
Destes santos, conservam-se numerosas reproduções em miniaturas, como a que existe no Isabella Missal (Missal de Isabela), séc. XIII, do Museu Britânico.
Bibliografia: Ferrer-Banimeli, José Antônio. Arquivos secretos do Vaticano e a franco maçonaria. São Paulo: Masdras, 2010.
Por Ir.·. Khalil Augusto Botelho Nogueira.M. I. e Membro da Academia Maçônica de Letras Ciências e Artes da Região Grapiúna (AMALCARG), Cadeira nº 11