A palavra silêncio é derivada do latim “silentiu” e significa interrupção de ruído ou estado de quem se cala. Segundo o Dicionário Aurélio, silêncio é definido como “o estado de quem se abstém de falar, de quem se cala; privação de falar; interrupção de ruído; segredo, sigilo”.

Não se atinge a verdade com muitas palavras e discussões, mas sim com o estudo, a reflexão e a meditação silenciosa. Portanto aprender a calar é aprender a pensar e meditar. No silêncio as ideias amadurecem e clareiam, e a verdade aparece como a verdadeira palavra que é comunicada no segredo da alma a cada ser.

A arte do silêncio é complexa, e não consiste unicamente em calar a palavra exterior, mas, requer para que seja realmente completa, ocorra o silêncio interior do pensamento. Quando soubermos calar os nossos pensamentos é quando a verdade poderá intimamente revelar-se e manifestar-se na nossa consciência. Na Maçonaria, o silêncio tem um rico significado e é sobre este aspecto que este trabalho se presta a estudá-lo.

Desde as primeiras civilizações, nomeadamente as que tinham sociedades iniciaticas, o silêncio é um importante elemento cultural, imposto drasticamente para salvaguardar os seus segredos. Em quase todas é representado por uma criança com o dedo sobre os lábios. No Antigo Egito, em função da característica misteriosa dos seus rituais, existia até a crença num “Deus” do silêncio, chamado Harpócrates. Entre os magos e sacerdotes egípcios, os iniciados assumiam um estado de silêncio total, a fim de se resguardarem os segredos e incitar os neófitos à meditação, regra que seria adaptada por todas as sociedades iniciaticas posteriormente.

A Religião Budista fundada na Índia por volta do Séc. VI A.C. por um pregador chamado Buda, também valoriza o silêncio como condição para a contemplação e a meditação, que somadas a introspecção e a autodisciplina levam ao desenvolvimento espiritual. Os essénios, tinham como principais símbolos um triângulo contendo uma orelha e outro contendo um olho, significando que a tudo viam e ouviam, mas não podiam falar, por não terem boca.

Dentre os mistérios gregos encontramos o de Orfeu, que com a magia do seu canto e da sua música executada numa lira, silenciava a natureza e a tudo magnetizava. Eurípedes no verso 470 da sua obra “Os Bacantes”, diz que verdadeiros são os mistérios submetidos à lei do segredo.

A palavra mistério vem do grego “Myein“, que significa “fechar” , “fechar a boca” e especialmente os olhos. A Escola Iniciática de Pitágoras tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. Os neófitos do grau de Preparação, equivalente ao grau maçónico de Aprendiz, eram proibidos de falar; eram só ouvintes e cumpriam um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. No grau de Purificação, equivalente ao de Companheiro Maçom, o silêncio estendia-se por mais dois anos, adquirindo estes Irmãos o direito de ouvir as palestras do Mestre Pitágoras. Assim, para atingir o grau de Perfeição, equivalente ao de Mestre Maçom, quando então os Irmãos podiam fazer uso da palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Os monges da Ordem de Cister tinham como uma das suas principais regras o silêncio para a reflexão. A G.·.L.·. da Inglaterra adotou, após a sua unificação, a legenda “Audi, Vide, Tace“, ou seja, “ouça, veja, cale“. Como pudemos perceber, há inúmeros exemplos da importância do silêncio ao longo da história.

Os primeiros ensinamentos maçónicos do século XVIII diziam que os 3 pontos particulares que distinguiam o Maçon eram: a fraternidade, a fidelidade e ser calado, que representavam o amor, a ajuda e a verdade entre os maçons. As “Old Charges” ou antigas obrigações, pregavam o silêncio, a circunspecção e a compostura durante os trabalhos. Nos Landmarks de Mackey, o nº 23 refere-se ao sigilo que o Maçon deve conservar sobre todos os conhecimentos que lhe são transmitidos e dos trabalhos em Loja, sendo que as cartas constitutivas de todas as obediências contêm referências com o mesmo sentido.

Para poder realizar a disciplina do silêncio, temos igualmente de compreender o significado e o alcance do segredo maçónico. O Maçon deve calar-se ante as mentalidades superficiais ou profanas sobre tudo aquilo que somente os que forem iniciados na sua compreensão podem entender e apreciar. Esta obrigação está em perfeito acordo com as palavras de Jesus: “Não deis coisas sagradas aos cães ou pérolas aos porcos“, e de Buda: “Não turbe o sábio a mente do homem de inteligência retardada“; como também na máxima hermética: “Os lábios da sabedoria estão mudos fora dos ouvidos da compreensão“.

A lei do silêncio é a origem de todas as verdadeiras iniciações e no transcorrer da iniciação maçônica pode ser detectada em vários momentos. Logo no início, na câmara de reflexão, o silêncio assume a sua maior importância, uma vez que o candidato talvez não tenha há muito tempo uma oportunidade igual de ficar a sós, em atitude contemplativa, em meditação, para que possa ocorrer a maturação silenciosa da sua alma.

Ao longo do cerimonial, no decorrer dos interrogatórios, poderemos encontrar por diversas vezes pausas silenciosas para que o candidato possa refletir sobre aquilo que acabou de ouvir. Voltaremos a deparar-nos com o silêncio ao realizarmos a 3ª viagem, a qual é feita no mais absoluto silêncio. Finalmente, ele será o ponto principal do juramento que realizamos no final da iniciação.

No que diz respeito ao ritual maçônico, é certo que boa parte das formalidades em uso na sociedade não permaneceram inteiramente secretas. Mas, é igualmente certo que não podem ser de utilidade verdadeira senão para os maçons, da mesma maneira que os instrumentos de determinada arte só servem para os obreiros conhecedores e capacitados nesta arte.

Do ponto de vista deste enfoque ritualístico, percebemos que o silêncio está presente em diversos momentos, desde a abertura dos trabalhos quando ouvimos o 2º Diácono responder ao V.·.M.·. “para ser o executor e transmissor de suas ordens e velar para que todos os irmãos se conservem nas colunas com o devido respeito, disciplina e ordem”. Na abertura do L.·. L.·. reina o absoluto silêncio. No decorrer dos trabalhos, os VVig.·. anunciarão o silêncio nas colunas, o que significa que democraticamente foi concedido o direito à palavra. Finalmente, no encerramento da sessão, em que todos acompanhando o V.·.M.·. diz: “juremos o mais profundo silêncio sobre tudo quanto aqui se passou”.

É dever do Maçon cuidar para que seja observado o segredo também, naquelas partes do ritual maçónico que possam ter chegado a conhecimento público, abstendo-se de negar ou de confirmar a autenticidade das pretensas revelações encontradas nas obras que tratam da nossa instituição e que muitas vezes revelam extrema ignorância, além de superficialidade.

A lei do silêncio nada mais é do que um perpétuo exercício do pensamento. Calar não consiste somente em nada dizer, mas também pode significar deixar de fazer qualquer reflexão dentro de si, quando se escuta alguém falar. Não se deve confundir silêncio com mutismo. O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo esconde-os. Um assinala o progresso, o outro a regressão.

Somente o homem capaz de guardar o silêncio será disciplinado em todos os outros aspectos do seu ser, e assim poderá entregar-se à meditação. O silêncio é a virtude maçónica que desenvolve a discrição, corrige os defeitos, permite usar a prudência e a tolerância em relação aos defeitos e faltas dos semelhantes. Finalmente, cabe salientar que os maçons se reúnem em templos, e o templo representa a fortaleza da paz e do silêncio “.

O silêncio maçônico é a discrição que conquista a confiança dos que nos rodeiam. Esta virtude nos remete para que silenciosamente corrigimos nossos defeitos e usar prudência e tolerância em relação aos defeitos dos outros. A visão e a audição devem ser educadas, tanto quanto as palavras e as maneiras.

Ser Maçon é ser amante da virtude, da sabedoria, da justiça e da humanidade. É ser amigo dos pobres e desgraçados, dos que sofrem, dos que choram, dos que têm fome e sede de justiça. É propor como única norma de conduta o bem de todos e o seu progresso e engrandecimento.

Ser Maçon é derramar por todas as partes os esplendores divinos da instrução, é educar a inteligência para o bem, conceber os mais belos ideais do direito, da moralidade e do amor, e praticá-los. È ser amigo da ciência e combater a ignorância, render culto à razão e à sabedoria. É realizar o sonho áureo da fraternidade universal entre os homens, porém o mais importante de tudo, de forma discreta e sem agir buscando louros ou prêmios.

O silêncio em relação aos conhecimentos, a ritualística e a simbologia da maçonaria é vital, a fim de que profanos despreparados não teçam interpretações errôneas sobre os seus ensinamentos. Nenhuma razão justifica que o Maçon, viole o segredo  ao qual se obrigou com solene juramento, sobre a forma de reconhecimento entre os maçons e o carácter dos seus trabalhos simbólicos, nem sequer quando lhe parecer útil para sua própria defesa ou para a defesa da ordem.

Referências:

Lavagnini, Aldo – Manual do Aprendiz Franco-Maçon;

Internet - https://www.bing.com/

Ir.·. Marilúcio Dantas Ramos.

Mes.·. Maç.·. Gr.·. 33. Itabuna - Bahia