Em Itabuna nasci,
Em Itabuna cresci,
E vendo tudo emergir,
Senti o verso surgir.
Eu e as lavadeiras,
Nas ribanceiras do Rio Cachoeira,
Roupas a lavar, quarar...
Baronesas a crescer
Enchentes a desabrigar,
Afogar,
Canoas a remar,
Peixes a pescar.
Nas matas, sol causticante,
Cacau a aflorar
Barcaças a secar
O ouro, o tesouro
Previsão de riqueza,
Quando vivias, Itabuna,
Como rainha na realeza.
No calor de dezembro,
Moleques a banhar-se
Nas águas que vi transbordar,
Secar.
Em suas pedras
A elegância das garças a saltitar,
Levando-me a nadar
A uma ilha que diziam ser do jegue!
Que jegue? Nunca vi esse jegue.
Que saudade tenho Da beleza inocente
Que quando menina se sente,
Da gente simples presente
Da coragem
Leveza...mocidade
Abrangente.
Do jardim,
Brincadeiras,
Dos bancos, encontros
Jovens namorados
Amores antes dos dezoito,
Batendo forte no coração.
Do "Simca Chambord"
Sempre ao redor,
Das calçadas,
Das graxas,
Das árvores,
Da intemperança,
Consequências,
Da pulsação
Da Adolescência.
Ai! Que saudade!
De Itabuna,
das freiras,
Quebra-queixo da feira,
Sorvete de coco,
Melhor não existia...
Do doido famoso que já se foi,
Dos velhos conversadores
Do bar da esquina :
Política, futebol, mulher.
Baiana do acarajé,
Poetas a versejar.
Ai! Que saudade!
Do Cine Marabá
Onde ia namorar,
Do Cine Plaza, cadeiras a bater,
levando a moçada a gargalhar.
Repique do sino,
Igreja a tocar,
Do hino a cantar na época escolar.
Das bicicletas,
Carroças,
Pipocas.
Lavadores de carro a olhar
Estudantes fardadas a passar
Cigarro escondido tragar.
No meio da rua
Vizinhas a falar.
Farinha, açúcar , café a emprestar.
Mendigos à porta
Prato de comida conforta.
Meninice fagueira
Inocência passageira.
Infância findável
Saudade interminável
Memória, elixir tradutor,
Referencial da adolescência.
Grávida da saudade,
Da mocidade,
Da alegria
De quando menina, estou.
Tudo me foi tão caro!!!
E entre acertos,
E desacertos..
Medos, incertezas, tristezas,
Ainda assim fui feliz...
LUCRECIA ROCHA