Homo totiens moritur quotiens amittit suos

"O homem morre tantas vezes quantas perde seus amigos"

entre os muitos valores que a maçonaria cultiva, a amizade fraterna é um dos mais sublimes. ela nasce no calor dos trabalhos, na força de uma ordem iniciática, floresce na cumplicidade das ações e se fortalece nas lutas travadas dentro e fora do templo. no entanto, há momentos em que essa amizade sofre o peso do tempo, das doenças, das circunstâncias e, sobretudo, da falta de empatia.

quando um irmão, por motivos de saúde, dificuldades financeiras ou simples decadência das condições de vida, é forçado a se afastar dos trabalhos maçônicos, experimenta uma dolorosa solidão. o silêncio daqueles que um dia o chamaram de irmão torna-se mais pesado do que o afastamento em si. a fraternidade, que deveria transcender a presença física, se revela frágil, as vezes vingativa, diante da necessária ausência.

a verdadeira maçonaria, porém, não se mede pelo número de reuniões frequentadas, mas pela força dos laços que permanecem mesmo na distância. um irmão em queda ou em necessidade não é um peso, mas uma oportunidade de exercício do amor fraternal. a empatia é o cimento que une as pedras da construção moral, e sua ausência corrói os alicerces da ordem.

perder a amizade de um irmão por afastamento é, antes de tudo, um reflexo da nossa própria insensibilidade. que cada um de nós olhe ao redor e perceba quantos irmãos, outrora ativos e alegres, hoje caminham na sombra do esquecimento, abandonados.

preciso, vital, é que possamos estender a mão, não apenas como maçons, mas como verdadeiros irmãos.

a amizade é um dos pilares mais nobres sobre os quais se ergue a maçonaria. dentro dos templos, ela nasce da convivência, do respeito mútuo e do ideal de fraternidade que une homens de diferentes origens e pensamentos. contudo, é fora dos templos, nas provações da vida, que essa amizade é verdadeiramente colocada à prova. quando um irmão, por motivos de decadência física, moral ou financeira, se vê forçado a se afastar, o vínculo que deveria permanecer muitas vezes se rompe silenciosamente, mansamente, gradativamente revelando uma dolorosa via por falta dos que um dia tanto amou; ágapes, festividades diversas, etc..

a ausência do irmão nas sessões é, para muitos, apenas uma cadeira vazia. mas para ele, é o símbolo de uma distância que cresce a cada dia, sombra do que já realizou e de quem foi, sentimento alimentado, dia a dia, pelo esquecimento e pela indiferença dos que permanecem. a fraternidade, que deveria ser eterna e incondicional, muitas vezes se mostra dependente da presença, do prestígio e da conveniência. esquece-se que o verdadeiro maçom é aquele que reconhece o sofrimento do outro mesmo quando este não tem forças para pedir ajuda.

quando a vida impõe dificuldades, o irmão em decadência não precisa apenas de palavras bonitas ou de recordações de um tempo melhor. precisa de presença, de acolhimento e de compreensão e em muitas das vezes ajuda econômica. a empatia é a mais pura manifestação da fraternidade — é enxergar no irmão fragilizado o reflexo de nossa própria humanidade. negar-lhe apoio é negar os próprios princípios da ordem, é transformar o juramento em mero ritual vazio; pior, é esquecer que se pode vir a passar pelas mesmas agruras num futuro não tão distante.

muitos se afastam da maçonaria não por vontade, mas por necessidade. e o silêncio dos que ficam, a ausência de um simples contato, tornam-se feridas profundas. a amizade que um dia foi celebrada em banquetes e reuniões se esvai, e a saudade se mistura ao amargor da ingratidão. a maçonaria, que se propõe a lapidar o homem e torná-lo melhor, precisa lembrar que a verdadeira luz não se apaga quando o irmão se distancia — ela deve ir até ele e iluminar seu caminho.

que cada maçom reflita: quantos irmãos estão afastados, esperando apenas um gesto? a verdadeira fraternidade não conhece afastamento, distância ou decadência. ela é eterna, porque nasce do coração e se sustenta na empatia. recuperar a amizade perdida é reacender a chama do verdadeiro espírito maçônico.

Chorar traz amargura, dói!

Ir.·. Leonardo Garcia Diniz

Mes.·. Maç.·. e acadêmico da Academia Maçônica de Letras, Ciências e Artes da Região Grapiúna (Amalcarg), cad. 31 e membro da Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Sim.·. Amparo e União 260, Or.·. de Ilhéus - BA