"É pavê ou pacumê?"
Fazer as pessoas rirem é um excelente lubrificante social que nos ajuda a sermos acolhidos e torna nossas presenças desejáveis. Demonstra capacidade de raciocínio elaborado, criatividade, sagacidade, inteligência...
Mas o humor pode esconder o mal. Disfarçar ideias podres e fedorentas para que pareçam capazes de gerar alegria e descontração, quando na verdade geram dor e agonia. Especialmente quando as piadas são veículos de um sadismo doentio. Usam-se palavras pseudo-engraçadas para provocar humilhação dos mais fracos, violentar os que ousam não obedecer às empoeiradas tradições arcaicas.
Preconceitos, misoginia, racismo e outras formas de ódio aparecem disfarçados de "brincadeira", permitindo que o palhaço evite confrontar os seus próprios medos e traumas. Piadas racistas, sexistas, homofóbicas perpetuam e normalizam a crueldade. Quem delas ri e as dissemina, torna-se cúmplice da opressão contra os vulneráveis que precisam "aprender a levar na graça".
No entanto, o humor também pode ser libertador, construir pontes, dissolver barreiras. Uma piada bem-intencionada pode ser o primeiro passo para resolver conflitos. O genuíno riso coletivo pode aliviar tensões ou ajudar a suportar condições "insuportáveis".
A piada é, portanto, a união dos nossos impulsos mais primitivos com nossas capacidades mais sofisticadas, nossa destrutividade e nossa criatividade, nossa mesquinhez e nossa generosidade. Saber que ela "não é só uma piada" é o primeiro passo para fazer do humor uma força de vida, não de morte.
Bruno Calheira
Artista, Estrategista e Servidor Público
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