Em um importante avanço para a conservação marinha, foi inaugurada, nesta quarta-feira (5), a primeira área de restauração de corais apoiada pelo Governo do Estado da Bahia, na Baía de Todos-os-Santos (BTS). O evento, que contou com um dia inteiro de atividades dedicadas à preservação e restauração dos ambientes marinhos, também marcou o anúncio de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e a Organização Sócio ambientalista, Pró-Mar.

“Este é o primeiro apoio formal do governo do estado à ação de recuperação de corais. A iniciativa começou na segunda-feira com o lançamento do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Baía de Todos-os-Santos (BTS). O objetivo é retomar a recuperação da BTS e promover um desenvolvimento mais sustentável. E nesse contexto, a recuperação de corais e manguezais é crucial para garantir a sustentabilidade da região, onde muitas famílias dependem dos recursos marinhos para sobreviver”, explicou André Ferraro, chefe de gabinete da Sema.

Durante o evento realizado na sede da Pró-Mar, em Mar Grande, município de Vera Cruz, foi anunciado ainda um acordo para o desenvolvimento de estudos visando o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) Marinho, direcionado às comunidades pesqueiras envolvidas na conservação e restauração dos ambientes costeiros. Essa iniciativa busca incentivar a conservação dos recifes de corais, que enfrentam diversos desafios ambientais, como poluição, pesca predatória e espécies invasoras.

Luana Pimentel, diretora de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema enfatizou que é essencial focar essa política pública nas necessidades dessas comunidades, garantindo que as ações de recuperação beneficiem tanto o meio ambiente quanto a população local. “Para isso, o estado está implementando o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), um instrumento que valoriza as ações de preservação ambiental realizadas pelas comunidades. O PSA é fundamental para garantir a preservação dos recursos naturais, equilibrando interesses econômicos e financiando a preservação ambiental”, explicou.

Outras atividades em comemoração à Semana do Meio Ambiente foram realizadas em Mar Grande, incluindo o plantio e a restauração de corais nativos. Essas ações marcaram a criação do primeiro sítio marinho dedicado à produção de colônias de coral, que serão utilizadas na restauração dos recifes. A iniciativa contou com a participação ativa das comunidades pesqueiras, capacitadas para a produção de sementeiras e o cultivo de corais nativos.

Eduardo Topázio, diretor de Fiscalização do Inema, destacou que a Baía de Todos-os-Santos (BTS) possui uma importância estratégica para o ecossistema local. Esta área funciona como um grande estuário que integra várias bacias hidrográficas, sendo vital para a reprodução e trânsito de diversas espécies marinhas. Os corais, em particular, desempenham um papel importante nesse ecossistema, ajudando a perpetuar as espécies marinhas.

O principal objetivo das ações na BTS é garantir que as atividades econômicas na região não impactem negativamente a natureza, promovendo uma convivência sustentável. Para isso, o plantio e a restauração de corais são realizados em áreas onde os corais existiam originalmente. “Este trabalho é essencial para educar a população local sobre a importância de manter esses habitats, especialmente para aqueles que dependem da pesca”, pontua Topázio.

Projeto BTS Corais

O projeto BTS Corais, desenvolvido pela Sema em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e outras instituições, pretende restaurar os ecossistemas marinhos da BTS através da capacitação e contratação das próprias comunidades pesqueiras como agentes ambientais. Este projeto inclui o monitoramento contínuo do sítio marinho, com saídas de campo realizadas por uma equipe composta por mergulhadores científicos, pesquisadores e estagiários.

Zé Pescador, presidente da Pró-Mar, afirma que com a parceria do governo, o projeto ganhará escala. O nosso objetivo é capacitar as comunidades para produzir colônias de corais, que compraremos para gerar uma fonte alternativa de renda para quem vive do mar. “Além da restauração ecológica, estamos focados na geração de renda e inclusão social. Eles recolhem fragmentos de corais, plantam em sementeiras e os desenvolvem nesses viveiros. Este trabalho ocorre tanto na Ilha de Itaparica quanto na Ilha de Maré”, explica.

Um dos principais diferenciais do projeto é a realização de estudos para promover a valoração justa dos serviços ambientais prestados pelas comunidades envolvidas. Esses estudos, desenvolvidos em colaboração com pesquisadores da UFBA, permitirão a destinação de recursos financeiros de contrapartidas e compensações de passivos ambientais, utilizando o método de PSA para ambientes costeiros e marinhos.

O nosso desafio é com o coral invasor, que não possui predadores naturais e se espalha rapidamente, competindo com outras espécies por espaço e recursos. Além disso, o coral invasor ataca outras espécies de corais, desequilibrando o ecossistema. “A solução proposta pelo projeto é transformar este problema em uma oportunidade: produzir substratos e blocos para cultivar corais nativos. Isso ajuda a combater o impacto negativo do coral invasor e promovendo a biodiversidade”, finaliza Zé Pescador.

Os recifes de corais da Baía de Todos-os-Santos enfrentam outros desafios ambientais, como a poluição industrial e orgânica, pesca predatória e a presença de espécies invasoras, que resultaram em parte da degradação desses ecossistemas. Este cenário não é único, já que a Baía reflete uma tendência global, onde estima-se que 75% dos recifes de coral estejam ameaçados. Para combater esse problema, é importante a implementação e aprimoramento de projetos de restauração desses ecossistemas.

Educação Ambiental

Ao longo de todo o dia, as equipes do Inema e de Educação Ambiental da Sema distribuíram calendários ilustrativos e didáticos nas comunidades pesqueiras de Ilha de Maré, Bom Jesus e Mar Grande. Esses materiais têm como objetivo informar sobre os períodos de defeso de espécies marinhas protegidas e ameaçadas de extinção, contribuindo para a conscientização e preservação desses recursos naturais.

Os calendários do defeso são ferramentas essenciais para as comunidades pesqueiras, pois informam os períodos em que a pesca de determinadas espécies marinhas é proibida ou restrita. Essas medidas visam proteger essas espécies durante seus períodos reprodutivos, contribuindo para a manutenção dos estoques pesqueiros e a sustentabilidade da atividade pesqueira a longo prazo.

“Embora nem todos estejam cientes dessa importância, é crucial começarmos a educação ambiental com pequenas ações, como educar as crianças sobre o período de defeso. Quando elas entendem a importância da preservação, ela leva esse conhecimento para casa, influenciando suas famílias a adotarem práticas mais sustentáveis, isso é formidável. Enfrentamos muitos desafios ambientais, mas com um trabalho contínuo e dedicado, podemos promover mudanças significativas”, finalizou, Guiomar Matos, professora em Mar Grande. (Secom/BA)