Papel jornal e arame, facilmente descartáveis, viram obras de arte nas mãos de Samuel Cruz. Com os materiais e lampejos de inspiração, o artista plástico constrói imagens que representam entidades de religiões de matriz africana, tais quais Oxossi, Exú e Iemanjá. Na semana em que a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) retoma os trabalhos após recesso parlamentar, a criatividade do soteropolitano, de 41 anos, é a atração no saguão Josaphat Marinho, com a Exposição Orixás - Divindades em Papel.
Ao total, 23 obras tridimensionais decoram o espaço cultural, localizado na entrada da sede do Poder Legislativo estadual. Os itens são apresentados em formato inovador, sendo esculturas envernizadas envolvidas por molduras de madeira ou redomas de vidro.
Em que pese não se intitule candomblecista, Samuel Cruz expressa em suas esculturas o respeito pelo candomblé, e a conexão viabilizada entre o ser humano, a natureza e as forças divinas. “O meu trabalho é uma forma de quebrar um pouco esse preconceito que muitas pessoas têm com o candomblé. Eu me identifico muito com o orixá, mesmo não sendo pertencente à religião. E eu sinto que, se os orixás me dão permissão para poder fazer e me dão também conhecimento para poder representá-los, é sinal que o meu contato com eles é muito forte”, afirmou.
Para Samuel, a carreira artística trilhada é também um caminho para a superação. Em 2014, quando trabalhava como carreteiro, um grave acidente de trânsito mudou para sempre sua vida. Após duas horas preso nas ferragens, foi socorrido e levado ao hospital. Algum tempo depois, teve diagnosticada paralisia na mão direita, o que representou o fim da jornada nas rodovias. “Fui orientado por um fisioterapeuta a realizar atividades manuais para tentar recuperar os movimentos da mão. Em seis meses, trabalhando com esculturas feitas com papel, recuperei esses movimentos”, lembra.
Ainda segundo Samuel Cruz, a sua produção se dá de forma sustentável. Conforme ressaltou o artista plástico, o papel que poderia estar degradando o meio ambiente, entupindo bueiros e levando a malefícios ambientais, são matéria-prima para a elaboração das peças. “Eu procuro resgatar esses papéis e transformar em grandes obras de arte como você está vendo aqui agora”, explicou.
A exposição Orixás - Divindades em Papel ficará na ALBA até esta sexta-feira (8). Na terceira passagem do expositor na Casa do Povo, servidores e visitantes vão poder contemplar e adquirir as peças. Os valores variam entre R$ 900 e R$ 2500. Criador de mais de duzentas obras e participante em mais de 30 exposições, Cruz fará o seu primeiro evento internacional no dia 19 de outubro, na África do Sul. Antes disso, 22 de setembro, o artista vai expor sua arte no Shopping Apipema, em Salvador.
Na capital baiana, sempre com o apoio da produtora cultural Rosângela Vieira, a esposa e braço direito, o futuro formando em Licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade Estácio de Sá já exibiu seus trabalhos em ateliês da cidade, restaurantes e cafeterias no Santo Antônio Além do Carmo (Centro Histórico de Salvador), bem como na Biblioteca Central dos Barris, na Uneb-Cepaia (Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos) e no Shopping Passeo, no Itaigara.