Frente aos avanços da inteligência artificial, especialista em Direito do Afya Centro Universitário de Itaperuna analisa desafios e benefícios deste cenário para o exercício da profissão
Em meio à crescente digitalização da sociedade, a advocacia tem assumido um papel cada vez mais estratégico, impulsionada pelo avanço da tecnologia. Ferramentas de inteligência artificial (IA), antes vistas com desconfiança, hoje são adotadas como aliadas na construção de uma prática jurídica mais eficiente e centrada no ser humano. O conceito de “Advocacia 5.0” já se consolida no país com a integração de soluções como IA generativa, jurimetria, automação de documentos e blockchain jurídico. O resultado é um modelo de atuação mais analítico, preditivo e orientado para as necessidades do cliente.
Dados da OAB-SP apontam que mais de 55% dos advogados brasileiros já utilizam algum tipo de IA em sua rotina profissional. Além disso, uma pesquisa realizada por Jusbrasil, ITS Rio e Trybe indica que 71% desses profissionais buscaram capacitação antes de adotar essas tecnologias, o que é um sinal claro de que o setor jurídico está em processo de adaptação e aprendizado contínuo diante das transformações tecnológicas.
Para a advogada e coordenadora do curso de Direito do Afya Centro Universitário de Itaperuna, Dra. Rayla Santos, a inteligência artificial não representa uma ameaça ao Direito ou à profissão jurídica, mas sim uma grande oportunidade. Segundo ela, “o Direito, por sua própria natureza, é uma ciência em constante evolução, e a IA representa uma das mais relevantes inovações contemporâneas. Quando bem utilizada, ela permite ao profissional dedicar-se ao que há de mais nobre na profissão, que é a interpretação sensível dos conflitos humanos, a construção de soluções justas e a defesa integral dos direitos fundamentais. A tecnologia, portanto, não substitui o jurista, mas o potencializa”.
Sobre o uso crescente de ferramentas digitais por parte da advocacia, a especialista reforça que os dados revelam uma advocacia que acompanha as transformações tecnológicas, além de se antecipar a elas com postura proativa e comprometida com a excelência, e afirma que o profissional jurídico contemporâneo tem demonstrado maturidade ao buscar capacitação e ao incorporar a IA como ferramenta estratégica. Essa atitude destaca uma advocacia resiliente, visionária e consciente de seu papel na sociedade, capaz de se reinventar sem perder sua essência.
A especialista também ressalta que a nova geração de advogados chega ao mercado com outro olhar. Eles são “nativos digitais”, ou seja, valorizam a tecnologia como ferramenta estratégica e buscam um ambiente profissional mais colaborativo, flexível e conectado. “Os novos profissionais têm demonstrado uma visão sofisticada e estratégica da tecnologia. Para eles, a IA representa um diferencial competitivo que, quando utilizado com probidade e responsabilidade, pode democratizar o acesso à justiça, tornar os serviços jurídicos mais eficientes e qualificar ainda mais a atuação profissional. Essa nova geração de juristas compreende que a modernização tecnológica é compatível, e até mesmo complementar, à missão humanista da advocacia”, destaca Dra. Rayla.
Nesse novo cenário, o papel das organizações e instituições jurídicas torna-se ainda mais relevante. A OAB-SP, por exemplo, tem demonstrado forte compromisso com o tema, promovendo capacitações digitais, formações sobre IA e debates sobre ética tecnológica. Um exemplo disso foi o curso sobre Inteligência Artificial Generativa promovido em 2024, que contou com mais de 40 mil inscritos. Paralelamente, o debate legislativo também avança, com destaque para o Projeto de Lei 2338/2023, que propõe diretrizes nacionais para o uso responsável da IA, iniciativa que impacta diretamente a atuação de advogados, promotores, juízes e demais operadores do Direito.
Segundo a advogada do Afya Centro Universitário de Itaperuna , a tecnologia deve ser vista como aliada da inteligência humana, nunca como substituta. “A atuação jurídica exige sensibilidade, integridade e compreensão de nuances que a lógica algorítmica não alcança. Ao usar a IA com responsabilidade, o profissional do direito amplia sua capacidade analítica, otimiza o tempo e reafirma seu compromisso com a justiça, a cidadania e a democracia. A formação jurídica precisa preparar o estudante para unir tradição e inovação, promovendo o pensamento crítico e o uso ético da tecnologia. Alinhada a uma base humanística, a IA pode ser uma cooperadora na construção de uma advocacia mais justa e transformadora.